Virgínia Bahia traça os rumos da comunicação na ANAMPA para consolidar, engajar e representar aposentados

A defesa dos aposentados da magistratura e do Ministério Público da União exige articulação, estratégia e mobilização. Virgínia Bahia conhece bem esse cenário. Juíza aposentada do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, sempre esteve próxima do associativismo, acumulando experiências na AMATRA VI, na ANAMATRA e, agora, como diretora de Comunicação da Associação Nacional de Magistrados Aposentados do Poder Judiciário da União e de Procuradores Aposentados do Ministério Público da União (ANAMPA).

Sua atuação será voltada para consolidar a presença da entidade e ampliar o engajamento dos associados. Ela destaca que a ANAMPA reúne profissionais renomados e experiência institucional, incluindo ex-desembargadores, ex-presidentes de tribunais e lideranças com forte atuação no associativismo.

Mas Virgínia sabe que a influência da entidade dependerá não apenas da experiência de seus membros, mas da forma como ela se posiciona no debate público e junto às instituições. Para isso, a comunicação precisa ser clara, acessível e eficaz, garantindo que os aposentados se sintam bem informado e que a sociedade compreenda a relevância de suas pautas.

Nesta entrevista, ela fala sobre sua trajetória, os desafios da comunicação institucional e o papel da ANAMPA na defesa da paridade e da valorização dos aposentados. Também destaca a importância da transparência no relacionamento com os sócios, pois acredita que um dirigente associativo não pode prometer resultados, mas tem a obrigação de garantir trabalho sério e permanente. Confira a seguir.

Na sua visão, o que levou à necessidade de criar uma associação como a ANAMPA?

Virgínia Bahia: A forma como as associações representativas tradicionais passaram a lidar com os aposentados deixou evidente a necessidade de uma entidade voltada exclusivamente para este público. Com a criação de diferentes regimes previdenciários, os interesses de ativos e aposentados começaram a divergir de maneira irreversível. Os magistrados e procuradores mais novos não têm direito à paridade e à integralidade, e muitos migraram para o regime de benefício especial. A maioria dos que ingressaram após 2003 não levará nada para a aposentadoria além do teto previdenciário.

Diante desse cenário, a prioridade das entidades passou a ser os ativos, buscando inflar os ganhos durante a carreira, sem preocupação com os aposentados. O princípio da paridade, que sempre garantiu isonomia entre ativos e inativos, foi sendo enfraquecido e hoje virou quase uma formalidade sem efeito prático. Quando uma medida tem impacto financeiro para os aposentados, ela é simplesmente ignorada. Assim, percebemos que não poderíamos contar com as associações nacionais e locais para essa luta. A ANAMPA surgiu justamente para preencher essa lacuna, atuando de forma independente na defesa da paridade e dos direitos dos aposentados da magistratura e do Ministério Público.

Além da defesa da paridade, a ANAMPA também busca evitar distorções na política remuneratória. Como enxerga esse cenário?

Virgínia: Exatamente! O problema vai além da paridade. A política remuneratória atual está criando distorções graves que, no longo prazo, prejudicarão até os que ainda estão na ativa. Um dos papéis fundamentais da ANAMPA é ser uma contenção para esses penduricalhos, que distorcem a remuneração e enfraquecem a estrutura de carreira. Sempre digo isso aos mais jovens: no futuro, eles vão se arrepender. Esse modelo está engessando a magistratura e o Ministério Público de tal forma que, cada vez mais, os profissionais adiam a aposentadoria para não sofrer perdas salariais.

Eu levei pouco mais de três anos para me tornar juíza titular. Hoje, antes mesmo dessa onda de penduricalhos, o tempo médio já estava em cerca de 15 anos. Com o atual modelo, a tendência é que os juízes, por exemplo, permaneçam como substitutos por toda a carreira, porque o impacto financeiro da aposentadoria será insustentável.

Sabemos que a ANAMPA ainda não tem o mesmo peso político das associações tradicionais, mas estamos aqui para fazer o enfrentamento necessário. Nosso compromisso não é apenas com os aposentados de hoje, mas com a construção de uma estrutura que não comprometa o futuro da magistratura e do Ministério Público.

A ANAMPA se propõe a ser um contraponto ativo na defesa da paridade e dos aposentados. O que diferencia a associação das demais e como avalia o impacto que já conseguiu gerar desde sua criação?

Virgínia: A ANAMPA nasceu com uma proposta muito clara: atuar politicamente e ser um obstáculo real para qualquer iniciativa que enfraqueça a paridade. Esse direito está na Constituição e precisa ser respeitado, independentemente de ser incômodo para alguns. Nosso foco é garantir representação para os aposentados da magistratura e do Ministério Público em um cenário onde, historicamente, esses grupos foram deixados em segundo plano.

O que nos diferencia de outras tentativas de organizar aposentados é que conseguimos sair do papel com rapidez e estrutura. Muitas associações surgem com boas intenções, mas sem a experiência necessária para viabilizar uma atuação consistente. A ANAMPA é formada por pessoas que já passaram pelo associativismo e conhecem bem seus desafios. Isso faz diferença, porque sabemos que criar uma associação não é só reunir algumas pessoas e formalizar um estatuto.

Além disso, temos entre nossos associados ex-desembargadores, ex-presidentes de tribunais e figuras muito respeitadas dentro da magistratura e do Ministério Público. Sabemos que, no início, houve resistência e até tentativas de desqualificar a ANAMPA como uma iniciativa sem relevância. Mas estamos construindo uma entidade forte, respeitada e capaz de defender os interesses dos aposentados com seriedade.

Você já havia tido experiências diretas na área de comunicação antes de assumir a diretoria da ANAMPA? Como foi o processo de aceitar o convite para essa função e quais desafios enxerga na condução dessa comunicação tão diversa?

Virgínia: Não, nunca tive experiências diretas na comunicação. Quando fui presidente da AMATRA VI, por exemplo, tínhamos uma diretora de comunicação e uma equipe, com quem eu mantinha contato próximo, mas nunca estive diretamente responsável por essa função. Mas, embora não tenha conhecimento técnico em comunicação, minhas percepções são muito intuitivas e gosto desse desafio. É o que eu já disse em outras oportunidades: em entidades como as nossas, quem assume essa tarefa muitas vezes vem de outras áreas de formação, mas acaba desenvolvendo uma percepção política sobre como funcionam esses processos de diálogo e comunicação institucional, o que é fundamental.

O convite para a diretoria de comunicação surgiu durante as discussões sobre a criação da ANAMPA. Acabei assumindo a Diretoria de Comunicação pela necessidade, pelo compromisso com o projeto e também por gostar dessa dinâmica. Os desafios são muitos. Em alguns momentos, precisamos usar uma linguagem mais técnica, direcionada ao mundo jurídico. Em outros, temos que adaptar o discurso para diferentes públicos e regiões — ora falando com juízes, ora com membros do Ministério Público, ora com colegas do Sul ou do Norte do país. É um trabalho que exige flexibilidade e muita escuta. Ainda assim, acredito no diálogo como forma de encontrar soluções.

Como pensa em equilibrar essa comunicação para que seja efetiva nesses diferentes públicos?

Virgínia: Como disse, a ANAMPA precisa se tornar conhecida não apenas pelos magistrados e membros do Ministério Público aposentados, mas também pela sociedade em geral. Há quem argumente que o público externo não se tornará sócio da ANAMPA, o que é verdade. Mas entendo que a comunicação não serve apenas para captar novos associados. O objetivo principal é dar visibilidade à entidade, consolidá-la como uma referência legítima e respeitada. E isso leva tempo. Respeito não se impõe, se conquista.

Além disso, a ANAMPA tem uma estrutura única, que congrega segmentos que nunca haviam estado juntos em uma mesma associação. Isso por si só já nos impõe um desafio de comunicação interna. Mas, ao mesmo tempo, precisamos que a entidade tenha projeção externa e seja reconhecida como uma voz relevante no debate sobre aposentadoria, paridade e valorização da magistratura e do Ministério Público. Minha prioridade é que a ANAMPA seja amplamente conhecida e respeitada. E o fortalecimento institucional passa pela forma como nos comunicamos, tanto internamente quanto com a sociedade.

Como a ANAMPA pretende engajar e se aproximar de seus associados?

Virgínia: A comunicação com o associado é fundamental. Para que ele se engaje, primeiro precisa estar bem informado sobre o que a associação está fazendo, quais são os próximos passos e como pode contribuir. Se o associado não tem clareza sobre as ações em andamento, ele não se envolve.

É claro que, em algumas situações, não podemos divulgar cada detalhe estratégico, especialmente quando há tratativas institucionais em curso. Mas é essencial que os associados tenham acesso ao panorama geral do trabalho que está sendo realizado. Quando estive à frente da AMATRA VI, sempre mantive uma comunicação muito próxima com os membros, sem formalismos excessivos, de maneira direta e objetiva. E percebi que isso fazia diferença no engajamento.

Outro ponto é demonstrar que o trabalho está sendo feito. Nós não podemos garantir resultados porque muitas decisões não dependem apenas da nossa vontade. Mas podemos garantir que a ANAMPA estará atuando de forma incansável. Os associados precisam ver esse empenho, sentir que há uma mobilização séria e estruturada. Mesmo que os resultados nem sempre sejam imediatos, essa transparência gera confiança e incentiva a participação.

Para encerrar, qual mensagem gostaria de deixar para os associados da ANAMPA? O que eles podem esperar da entidade e de sua atuação na Diretoria de Comunicação?

Virgínia: Na realidade, quero deixar um convite: tragam mais colegas para a ANAMPA e nos ajudem a fortalecer essa entidade. Nossa envergadura política está diretamente ligada ao nosso tamanho e à nossa capacidade de mobilização. Quanto mais unidos, maior será o peso da nossa voz nas discussões institucionais.

Podemos prometer muito trabalho. Estamos lutando pela paridade e por uma política remuneratória que preserve a dignidade da magistratura e do Ministério Público. Sabemos que muitos colegas da ativa recebem benefícios como a Licença Compensatória, mas, se estivesse na ativa, provavelmente também estaria recebendo. Isso, no entanto, não significa que esse modelo seja ideal ou sustentável. Precisamos de uma estrutura salarial que não nos exponha ao desgaste midiático e preserve a segurança financeira dos aposentados.

Quero que todos saibam que a ANAMPA é o seu lugar de acolhimento. Muitos aposentados se sentem esquecidos após décadas de dedicação. No entanto, queremos mudar essa realidade, oferecendo não só a defesa institucional, mas também um espaço de apoio e troca entre aposentados. Embora não sejamos uma associação voltada para eventos sociais, entendemos a importância do contato humano. Nossos grupos funcionam como um ponto de encontro onde os aposentados podem expressar suas preocupações, compartilhar informações e se sentir parte de algo maior. A ANAMPA será esse lugar: um espaço de acolhimento, de valorização e de muita mobilização.