Em defesa da paridade, direitos e representatividade, ANAMPA garantirá voz e valorização aos aposentados, afirma Sonia Roberts

Advogada, professora e juíza do trabalho aposentada, Sonia Roberts gosta de falar sobre humanidades e amenidades, mas nunca se esquiva de temas sensíveis e urgentes que tocam o Judiciário e os direitos dos aposentados. Em recente artigo publicado na imprensa (A PEC 45/24 e a retórica do apocalipse no Judiciário), ela mostrou que sua dedicação à justiça vai além dos tribunais. Desde novembro de 2024 à frente da Associação Nacional dos Magistrados Aposentados do Poder Judiciário da União e de Procuradores Aposentados do Ministério Público da União (ANAMPA), ela lidera com coragem e visão estratégica uma entidade que nasceu para ser a voz ativa de quem muitas vezes se sente esquecido. Desde sua formação em Direito, Sonia Roberts encontrou no serviço público uma forma de transformar vidas. Como magistrada, enfrentou os desafios de atuar em diferentes regiões, construindo uma carreira sólida, pautada pela ética, eficiência e empatia. Após sua aposentadoria, percebeu que havia um novo capítulo a ser escrito: o de lutar pelos direitos daqueles que, como ela, dedicaram uma vida ao serviço público, mas agora enfrentam desigualdades e desafios em um sistema que privilegia os ativos em detrimento dos aposentados. Nesta entrevista concedida à equipe de comunicação da ANAMPA, Sonia Roberts fala sobre sua carreira, os desafios que moldaram sua liderança e as prioridades da Associação. De sua paixão por ensinar a sua indignação com a criação de penduricalhos que ferem o princípio da paridade, ela revela a essência de uma líder comprometida não apenas com seus pares, mas com a construção de um Judiciário verdadeiramente justo e transparente. Confira a íntegra da conversa a seguir: Pode contar um pouco sobre sua trajetória profissional e o que a levou a decidir seguir a carreira na magistratura? Sonia Roberts: Minha trajetória começou ainda durante a faculdade de Direito. Fiz o primeiro concurso público quando ainda era estudante e tomei posse antes mesmo de concluir o curso. Me formei na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mas comecei a faculdade na Universidade Estadual de Londrina (UEL), precisando transferir por conta do trabalho. Trabalhei como servidora da Justiça do Trabalho por um tempo, mas decidi me desafiar e fui advogar. Foi uma decisão ousada na época, pois eu era uma mulher jovem, recém-formada, atuando sozinha em um ambiente ainda mais desafiador do que é hoje. Felizmente, consegui construir uma carreira sólida. A advocacia me trouxe muitas oportunidades. Atendi o Sindicato do Comércio em Londrina, cidade onde construí minha família. Paralelamente, comecei a dar aulas na UEL, no Escritório de Assuntos Jurídicos, que prestava assistência jurídica em convênio com o governo estadual. Foi uma experiência enriquecedora, pois me permitiu atuar em diversas áreas, como Direito de Família e Sucessões, além de ensinar e orientar alunos. Depois, decidi prestar concurso para a magistratura. Foi um desafio enorme, porque meus filhos eram pequenos e minha rotina era muito intensa. Minha prática como advogada ajudou muito, e passei nos concursos de Santa Catarina e Paraná. Optei por Santa Catarina e fiz minha carreira lá, passando por várias cidades, como São Bento, Canoinhas e Balneário Camboriú. Além da magistratura, continuei ensinando Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito Previdenciário. Foram anos intensos e de muito aprendizado. Já teve outras experiências com o associativismo antes de assumir a presidência da ANAMPA? Sonia: Após me aposentar, em 2015, tirei um período sabático para descansar, mas logo recebi um convite da Associação dos Magistrados do Trabalho da 12° Região (AMATRA-SC) para atuar em defesa dos aposentados. Aceitei e fiquei por dois mandatos como diretora de aposentados, período em que também integrei a Comissão de Aposentados da associação nacional, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA). Sempre mantive uma atuação ativa, tanto na defesa de direitos quanto no diálogo com os associados. No entanto, algumas divergências começaram a surgir, especialmente em relação a temas como a defesa irrestrita da paridade, princípio que sempre foi muito importante para mim. Houve um momento em que percebi que minha visão não estava alinhada com a das entidades, e isso dificultava minha permanência nos cargos. Acabei optando por me desligar das funções, embora tenha continuado como associada. Durante minha carreira, estive envolvida em diversas comissões e cargos de liderança, incluindo a Escola Judicial do tribunal onde atuei. Sempre acreditei no poder do associativismo para promover mudanças e fortalecer direitos, e minha experiência acumulada foi fundamental para aceitar o desafio de presidir a ANAMPA, uma entidade que nasceu com o propósito de representar aposentados que, muitas vezes, se sentem desamparados em suas demandas. Quais foram as prioridades estabelecidas pela ANAMPA desde sua fundação, e quais desafios vocês já esperam enfrentar nos primeiros anos de atuação? Sonia: Nossa prioridade inicial, sem dúvida, é a luta pela paridade. A criação de benefícios exclusivos para os ativos, como a licença compensatória, gerou um verdadeiro racha nas carreiras. Isso quebrou a união entre ativos e aposentados, algo que sempre foi um pilar das nossas categorias. Nossa missão é enfrentar esse tipo de injustiça e buscar a regulamentação de medidas que respeitem o princípio da paridade, assegurado pela Constituição. Outro ponto importante é o acolhimento dos aposentados. Ao longo dos anos, percebi como eles têm sido deixados de lado pelas associações locais e nacionais. A maior parte dos esforços sempre foi direcionada para os ativos, o que é compreensível dado o volume de demandas, mas isso criou uma lacuna para os aposentados. Por isso, temos trabalhado para criar canais de escuta efetivos, oferecer um espaço de diálogo e atender a suas demandas específicas. É essencial que eles se sintam representados e valorizados. Também temos desafios estruturais. Hoje, aposentados não têm espaço significativo no conselho de representantes das entidades que deveriam nos representar. Não possuem direito a voto, e isso não é justo. Nosso trabalho tem sido mudar essa realidade, ampliando a participação dos aposentados e garantindo que suas vozes sejam ouvidas. Além disso, queremos fortalecer a atuação política em Brasília, promover ações que beneficiem nossa base e ampliar iniciativas que tragam mais qualidade de vida, como programas